sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Waly por mim, Salomão por Wallace

Waly era um ator,
um ator da vida real.

ao falarmos de ator
é necessário de alguma forma
a ausência da realidade
é necessário que haja a plasticidade
ainda que narre e projete a vida real
seja ela cinema, novela ou teatral
ou qualquer outra forma de expressão audiovisual

ao se deparar com a mira da lente
mais vida dava às encarnadas personas em sua mente
e sob a mira da lente orgânica do globo ocular
continuava a bancar e desbancar tudo
sendo ele tudo, e todos que podia se tornar

com pé no chão se permitia ser volátil
e a cabeça gostava que avoasse
dos loucos o mais sensato
dos sensatos o mais louco

sem métricas, com ou sem regras
contra-regra, convergente e divergente
não era proibido proibir
muito menos lícito coibir

Dias, caatingueiro de Jequié
na ciência do cuidado foi treinado
E talvez entortado por sonhos alheios,
que eram maiores que o "seu" pequenino sonho seu
Foi endireitar-se em Salvador
Justo quando e onde meus senhores...?

...

... na efervescência do Regime
E na Terra Matre Tropicália
De Gil,Gal, Caetano e outro louco de pedra
ou melhor... de Rocha, o Gláuber, porq não?
Ali experimentou o teatro e o direito "Federal"
e desse, nem canudo levou pro Rio

Numa blitz em São Paulo,
besteirinhas o levou ao inferno
onde ele pode perceber a existência, o azul, e grandiosidade do céu

Abre-se a gaiola, pássaro avua mundo afora
rompendo a linha de fronteira entre seu ser e o ser alheio
e na memória, continua a editar sua própria história


Waly não foi apenas o beija-flor
a sugar toda a glicose do camarão em flor
Ele se tornou a própria flor madura
pronta para o consumo
para aqueles que cheirassem, ou provassem dela
se embriagassem com a glicose da poesia
da reflexão, do questionamento de todo pragmatismo
de ser, tudo que pudesse e conseguisse ser,
não de ser apenas o que queriam que ele fosse
ou simplesmente não o fosse por conveniência...

..inclusive deixando de ser quem era
pra que os outros mesmo que por um momento,
deixassem de ser quem são,
e nos permitir a fuga da loucura que consideramos tão sã,
por um traçado cartesiano que tudo tenta justificar,
que põe de lado, a sensitividade e sentidos
do sentido de ser humano
e dá lugar à obrigação, exatidão, à escravidão
a prisão que prende dentro de si
toda espontaneidade, amor, e poesia que é a vida

poesia não se resume à poema,
mas de um poema pode-se extrair a poesia
o poema de Waly não se resumia à letras.
Aos insensíveis, e chatos de  plantão
que afirmam com toda convicção
que poema é um gênero obrigatoriamente textual
o ministério da saúde adverte
capinem o cansanção do sentido ao pé da letra

e com a licença do Waly que dizia:

"A poesia não tem lugar nobre pra acontecer.
Não é só o mármore como os parnasianos,
os cultores do monte parnaso pensavam.
A poesia não tem só locais, ou materiais nobres,
ela usa os mais diferentes materiais,
não há vulgaridade pra ela"

emendarei e finalizarei minha fala com
uma obra que produzi outrora
antes mesmo de conhecer o tal Salomão...

"Poetas são todos loucos,
tanto, que são tão poucos,
de tão loucos e sãos

Poeta representa perigo,
do Amor o amigo e debocha a razão
Tem as palavras corretas,
ainda sem métrica,
se mede com o coração

E em toda reta, se encontra um poeta,
sempre hábil a estender sua mão

Querem tudo e nada podem,
querem o poder em sua posse generosa

Nobre, e carinhosa
tempestade que faz a pena,
por teclas outrora, um olhar já choroso,
ou uma voz tão serena

Impávido seu pensar,
majestoso seu penar,
grandiosa sua nobreza

alegria faz gerar,
de sorrisos a ocultar,
felicidade ou tristeza

por moedas, curtidas, ou elogios,
por tudo isso!
Em fartura ou pobreza...

Ou ainda...

A ingratidão de serem tratados aos poucos,
como doidos e escória,
escarnecidos por almas impiedosas,
por corpo sem coração,
por loucos que verdadeiramente são... (não eles, os outros...)
E mais sãos que os poetas!
alguém por favor me diga...!
Quem são eles!?

Eles...........? Quem são....?"

-Wallace Ramos-

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